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O Efeito Dunning–Kruger na Massagem

Porque Saber Pouco Muitas Vezes Parece Saber Muito
October 11, 2025 by
O Efeito Dunning–Kruger na Massagem
Alberto

Quando comecei na massagem, achei que já sabia tudo. Músculos, técnicas, anatomia — fácil. Depois encontrei o meu primeiro cliente real e a ilusão desfez-se mais depressa do que a minha confiança. O ombro que eu pensava entender não se comportava como o do manual. A técnica “perfeita” não funcionava da mesma forma duas vezes.

Foi aí que comecei realmente a aprender — não sobre anatomia, mas sobre humildade.

Esse momento tem um nome: o efeito Dunning–Kruger.

O Que Significa

Os psicólogos David Dunning e Justin Kruger descreveram uma verdade simples e cruel:

“As pessoas com pouco conhecimento tendem a sobrestimar a sua competência, enquanto as mais experientes tendem a subestimá-la.”

Em linguagem clara: quanto menos sabes, mais certo estás.

E quanto mais aprendes, mais percebes o que ainda não sabes.

A massagem é um exemplo perfeito deste paradoxo.

O Principiante Confiante

Todos já passámos por isso — acabados de sair do curso, cheios de técnicas e entusiasmo. Achamos que conseguimos “ler” um corpo em cinco segundos e resolvê-lo em cinquenta minutos.

Cada dor parece um enigma simples de resolver.

Mas os clientes reais não seguem o guião.

Os padrões de dor não batem certo com os diagramas.

A fáscia não quer saber do que o professor disse sobre “deslizamentos ao longo das fibras”. Rapidamente percebes que o mapa não é o território.

Esse choque de confiança é progresso, não falha.

É o ponto onde a competência começa a substituir o ego.

O Especialista Silencioso

Avança uns anos.

O mesmo terapeuta agora hesita antes de dar uma resposta segura — não porque saiba menos, mas porque finalmente entende a profundidade do que ainda há por descobrir.

Ouve mais, fala menos, adapta-se melhor.

Trocou o desempenho pela presença.

É o outro lado da curva: humildade nascida da experiência.

A verdadeira perícia não grita. Escuta.

O Paradoxo do Cliente

Os clientes também vivem nesta curva.

Alguns chegam convencidos de que sabem exatamente o que precisam: “É só um nó — carrega mais.”

Outros desvalorizam o próprio desconforto: “Deve ser coisa pouca.”

O teu papel não é provar que estão errados — é guiá-los para fora da ilusão de certeza.

Uma explicação calma — “o que sente pode vir do sistema nervoso, não apenas do músculo” — vale mais do que uma correção direta.

Não é confrontar; é despertar consciência.

Porque Isto Importa

O efeito Dunning–Kruger não é apenas psicologia. É uma questão de ética profissional.

Lembra-nos que confiança sem compreensão é perigosa — e que humildade sem medo é poder.

Obriga-nos a permanecer curiosos, a questionar o que julgamos saber e a encarar cada corpo como nova informação, não como um diagnóstico repetido.

Conclusão

Massajar não é mostrar o que sabes — é reparar no que acontece.

O terapeuta que acha que sabe tudo deixou de aprender.

O que continua a fazer perguntas é o que realmente merece confiança.

Quanto mais aprendes sobre o corpo, menos te podes dar ao luxo de estar certo.

Isso não é dúvida. É mestria.

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