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Os Dois Monges e a Mesa de Massagem

Uma parábola zen sobre o que todo terapeuta de massagem acaba por aprender: tocar com compaixão e deixar ir sem carregar.
October 13, 2025 by
Os Dois Monges e a Mesa de Massagem
Alberto

Dois monges caminhavam em silêncio depois de uma forte chuva. Chegaram a um rio lamacento, onde uma jovem mulher, incapaz de atravessar sem se molhar, hesitava na margem. Sem dizer uma palavra, o monge mais velho pegou nela, levou-a ao colo até à outra margem e pousou-a em segurança. Continuaram o caminho. Horas depois, o monge mais novo não aguentou mais e perguntou:

— Como pudeste carregá-la? Nós não devemos tocar em mulheres.

O mais velho respondeu calmamente:

— Eu deixei-a lá há horas. Tu ainda a estás a carregar?

E é só isto. Nenhum trovão, nenhuma iluminação debaixo de uma árvore. Apenas dois homens encharcados — e um deles ainda preso à ideia do que “deveria ser”. A história diz tudo sobre a disciplina mental de que precisamos enquanto terapeutas de massagem.

1. Deixa o Cliente no Chão

Compaixão não significa levar os outros para casa na cabeça. Ouves, respondes, ajudas — e depois deixas ir.

Muitos terapeutas confundem empatia com absorção. Acham que sentir a dor do cliente é ligação. Não é — é indigestão emocional. Não honras o sofrimento de alguém ao guardá-lo. Honras ao estares plenamente presente enquanto ele está na tua mesa, e ao saíres limpo quando a sessão termina.

2. A Bondade Acima do Dogma

O monge novo seguiu as regras e perdeu o sentido delas. O monge velho quebrou a regra e encarnou o seu propósito.

A massagem também tem os seus dogmas — o que é “profissional”, “adequado”, “científico o suficiente”. O problema começa quando as regras se tornam uma armadura contra a presença humana real. Técnica é vital, sim. Mas quando o coração do trabalho — a compaixão — se perde no medo de errar ou na necessidade de parecer certo, a sessão esvazia-se. Profissionalismo verdadeiro inclui discernimento.

3. Sai da Cabeça

O monge novo não estava presente; estava a narrar a realidade dentro da própria mente.

Muitos terapeutas fazem o mesmo: pensam sobre o que estão a fazer enquanto o fazem — analisam, comparam, julgam — e perdem contacto com o que está debaixo das mãos. Presença não é misticismo; é literacia sensorial. Não consegues sentir o que o corpo te diz se estás preso ao teu comentário mental.

4. Limites São Clareza, Não Medo

A história não é sobre violar limites, mas sobre saber onde termina a compaixão e começa o apego.

Limites reais não são muros — são estrutura transparente. Protegem ambos os lados porque tornam a intenção clara. Limites baseados no medo criam rigidez; limites baseados em clareza criam segurança. O monge velho não foi imprudente — foi lúcido.

5. Não Leves a Lama Para Casa

A chuva, a lama, a mulher — tudo símbolos do resíduo emocional que o trabalho pode deixar.

Todo o terapeuta atravessa a dor dos outros. A prática não é evitar a lama, é saber lavá-la. Alguns dias vais pisar fundo — luto, trauma, projecções — mas a arte é deixá-los junto ao rio. Caso contrário, um dia acordas sem saber qual é a tua dor e qual é a dos outros.

Conclusão

A história não é sobre monges, regras ou rios. É sobre o peso que carregamos sem perceber.

A massagem, quando é boa, é uma prática de clareza: tocar sem prender, cuidar sem absorver, agir sem apego.

O monge velho não estava distante — estava livre.

É essa a disciplina que precisamos sobre a mesa: compaixão com mãos limpas e mente vazia.

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